Ainda estava escuro, e pelo que via ainda iria demorar
pra amanhecer, decidida a relaxar, e confiante que naquelas horas não
encontraria ninguém acordado pela cidade, resolve banhar-se no lago de Leiria.
Ao Chegar no lago, Clarie amarra sua égua numa árvore
próxima, e começa a despir-se.
Totalmente nua, solta-lhe os cabelos. Em seguida, com a
graça de um boto, mergulha nas águas cristalinas.
***
Dick e Colin eram mercenários, e estavam planejando sua
viagem logo ao amanhecer quando ouviram ruídos de cascos que ressoavam atraindo
suas atenções. Achando que era o patrulheiro da cidade, e como Colin tinha problemas
judiciais, resolveram se esconder.
“Por Jáh, que bela visão” – disse Dick. Olhando a delicada
figura de cabelos escuros que cruzava o campo verde e se dirigia à lagoa,
despindo-se à medida que chegava ali.
Eles estavam agachados, escondidos detrás de uns arbustos,
espiando a esplêndida donzela a banhar-se na lagoa.
****
Clarie lançou seu comprido cabelo negro sobre um ombro.
Podia sentir os olhos dos intrusos nela, tinha-os sentido por certo tempo.
Não que ela se importasse de ser apanhada banhando-se.
Não sentia incomoda ou com vergonha. Como poderia alguém estar envergonhada ou
orgulhosa de ter tudo o que as mulheres possuíam? Se um inoportuno moço conseguia
observar com equívoca luxúria, não era mais que uma tolice de sua parte.
Clarie passou seus dedos pelos seus cabelos molhados e
lançou outro olhar crítico para onde achava que se encontrava os intrusos.
Os olhos cravados nela possivelmente pertencessem a um
par de jovens curiosos que nunca tinham visto uma donzela nua. – Assim pensou.
Clarie se meteu debaixo da água, para esfriar sua
irritação. Agora emergia subitamente, sacudindo a cabeça e salpicando a água.
*****
Ao lado dele, Dick gemeu, de prazer ou dor, Colin não
estava seguro.
Subitamente dando-se conta do significado do gemido,
Colin o golpeou no ombro.
- Por que me golpeia?- Dick sussurrou.
- Quer que ela o ouça?
Ambos voltaram seus olhares à lagoa. Foi quando perceberam que a formosa donzela,
não estava mais lá.
-Cadê ela? – Colin perguntou
Atrás dele, a feminina voz disse claramente:
-Aqui.
Colin não se atreveu a vira-se. A espada dela pressionava
firmemente contra uma veia que pulsava em sua garganta. Ao lado dele, Dick
abriu a boca surpreso, cambaleou e caiu quando quis olhá-la. Se Colin não
tivesse furioso com ele mesmo por ter
baixado a guarda, teria se rido com a cena.
- Rapazes, não estão um pouco grandes para andar espiando uma
donzela banhando-se?
- Seu tom era zombador. - Esperava encontrar jovens idiotas aqui, não homens adultos.
Dick, em vez de vir em sua ajuda, estava
apoiado sobre seus cotovelos com uma expressão perplexa que comunicava ao mundo
que a morena era ainda mais bela de perto. Ele se perguntou se ela ainda estava nua.
-Vocês não são daqui - ela adivinhou.-O que estão fazendo nestas terras?
Colin se negou a responder. Não devia à mulher nenhuma explicação.
Mas Dick, o traidor, estava encantado pela mulher e respondeu:
-Não tínhamos intenção de ofender ou incomodar, minha lady -
ele disse quando se recuperou de seu
estado de choque.
-O asseguro. Ele sorriu, fazendo que seus olhos cor
esmeralda dançassem de uma maneira que nunca falhava em seduzir as moças.
- Veja, somos simples mercadores, quer comprar algo? - Apontando pra suas mochilas.
Enquanto Dick a mantinha entretida, Colin ganhou vantagem de
sua distração para deslizar sua mão lentamente pelo flanco de seu corpo e logo
ao longo de sua panturrilha.
Será que
consigo tirar a adaga da bota? – Pensou Colin.
Dick levantou suas sobrancelhas em fingida inocência e
seguiu falando. – Para a dama, fazemos
um bom desconto.
A espada subitamente se afundou na carne do pescoço de Colin,
em violento contraste com a voz melodiosa da mulher, que disse:
-Espero que te esteja coçando a perna e não que esteja
tratando de tirar algo da bota.
Ele apertou os punhos. Maldição! Ser ameaçado a ponta de
espada por uma donzela! Por Jah! Era humilhante.
-O que quer?- ele grunhiu.
-O que quero? - ela repetiu
- Hmmmm. O que quero? - Ela baixou a espada
e golpeou a coxa de Colin irreverentemente com a espada. Mas antes que ele pudesse
reagir, ela a moveu rapidamente de volta a sua garganta.
- Suas roupas.
Dick afogou sua risada.
Ela sorriu brandamente em resposta.
-As tuas também.
O sorriso de Dick se congelou em sua cara.
-Quer que eu
tire…?… toda a roupa?
-Sim.
A ira crescia em Colin.
- Idiota!- disse ao Dick, que
realmente parecia estar desfrutando da cena.
-Toma sua espada. Maldição, ela é só uma mulher, uma bebê. Vais
ficar aí atirado como um…?
Dick riu.
– Ela já não é uma bebê, verdade, moça? Além disso, se a
senhorita quiser minha roupa, Estarei encantado em obedecer.
Dick ficou de pé,
deixou cair seu cinturão, tirou-se suas botas, e começou a afrouxar os cordões
de suas calças.
- Depois de tudo, é justo. Eu a espiei enquanto estava nua.
O entusiasmo de Dick enquanto se tirava as calças e a roupa
interior só aumentou a irritação de Colin. Para sua surpresa, quando finalmente
Dick se mostrava corajosamente ante ela, a mulher permaneceu
indiferente a sua exibição de masculinidade.
Com a mão livre, ela recolheu o cinturão.
- Agora você - ela disse, cravando em Colin a ponta de sua
espada.
Colin considerou que não o faria. Dick podia ter entrado
naquele jogo, sorrindo como um idiota só coberto por sua túnica. Mas Colin
estava certo a não conceder nada a uma mulher.
- Não - ele disse.
- Vamos - ela o apurou.
- É um pagamento justo por estar
espiando.
- Não é um crime espiar aquilo que se exibe tão obscenamente
- ele a repreendeu.
Ela já tinha ferido seu orgulho de cavalheiro. Ele não ia
permitir ganhar a luta de vontades também.
A voz dela adquiriu um tom duro.
– Tire a roupa, Já.
- Não - ele disse
também com um tom duro.
Apesar de que a espada nunca se moveu de seu pescoço, a
mulher caminhou detrás dele, inclinando-se para lhe sussurrar no ouvido: - É perigosamente arrogante.
Seu quente fôlego lhe
produziu um calafrio que lhe percorreu o corpo, e a essência de sua pele recém-lavada
era uma distração perigosa. Mas ele se negou a admiti-lo.
Com o silêncio dele, ela deu a volta para enfrentá-lo cara a
cara, ela se agachou para estar diretamente em sua linha de visão. Colin não
tinha outra opção, mas que olhá-la. O que viu fez que seu coração se acelerasse
e que sua boca se secasse.
Graças a Jáh, ela já não estava nua, de outro modo a luxúria
teria esmagado toda sua vontade. Ainda assim, sua fúria se derreteu
instantaneamente, e era difícil para ele formar ideias, e muito menos emitir
palavras.
Era bela, ele baixou seus olhos até o decote.
Ele respirou com dificuldade. Se ela tinha planejado
desarmá-lo com sua beleza, era uma boa ideia. E funcionou até certo ponto. Mas
enquanto ele continuava olhando sua formosa e feminina cara, ele se deu conta
de uma verdade. Significativa. Apesar de toda sua bravura e palavras duras, ela
era uma mulher. E o coração de uma mulher sempre era terno e compassivo.
A espada ameaçando sua garganta não era, mas que uma
travessura. Ela nunca a usaria para machucá-lo. Não era mais perigosa que um
gatinho.
-Não me cortará - ele
disse, desafiando seu olhar.
Ela franziu o cenho. - Não seria o primeiro.
Colin não lhe acreditou por um instante.
Dick, preocupado pela séria mudança no intercâmbio de
palavras, interrompeu com um sorriso.
- ”Paz”, amigos. Não
necessitamos que isto se converta em um assunto tão grave. Vamos, tire a roupa como um bom moço, sim Colin?
Ela ficou de pé então - Sua roupa, Sr. Agora.
Colin estreitou seus olhos ante seu quadril, que estavam
rodeadas por um pesado cinturão de cavalheiro que servia para sustentar a
espada. O cinturão ia por cima de uma feminina saia vermelha.
-Não - ele desafiou.
Um longo silêncio cresceu entre eles, carregando o ar como o
vento antes de uma tormenta.
E então um raspou estalou. Foi tão inesperado e tão rápido
que a princípio Colin não o sentiu.
- Santa Mãe de Jáh! - Dick murmurou assustado.
Algo ardia no peito
de Colin.
Era impossível, Impensável. Atônito, ele levou seus dedos ao
lugar. Voltaram ensanguentados.
A moça o tinha talhado. A moça de cara doce, de voz suave, tinham talhado sua carne.
Antes que ele pudesse recuperar-se para lançar um contra-ataque,
ela levou a espada de volta a sua garganta, e ele foi forçado a agachar-se
dobrado em dois como um animal ferido enquanto o sangue do corte superficial se
escorria pela túnica rasgada.
Ele se tinha equivocado a respeito a dela. Estava
completamente equivocado. Nenhum remorso suavizou seu olhar tranquilo. Nada de piedade. Nada de clemência. Poderia matá-lo sem
pestanejar.
Nunca tinha visto tanta força de vontade em uma mulher. E só
nos mais desumanos guerreiros tinha visto esse tipo de fria determinação. Ele
impressionava e o enfurecia. Dobrado em dois, desamparado, olhando-a fixamente
com ira silenciosa, não podia decidir o que sentia por ela, admiração ou ódio.
- Mãe de Jah - Dick
disse - sabe o que fez?
Seu olhar nunca se desviou. – Dei uma advertência.
- OH, minha lady - Dick
disse, sacudindo sua cabeça – Você provocou ao urso.
- É só um arranhão - lhe disse, estreitando seu olhar em
Colin e adicionou - Para lhe recordar quem tem a espada aqui.
Colin sem deixar de olhá-la e permitindo um sorriso
malicioso, adicionou:
- Farei o que minha
bela dama quer.
Por agora,. ele pensou. Mas em uns poucos dias, essa moça,
teria o seu devido castigo por sua rabugice.