quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ainda estava escuro, e pelo que via ainda iria demorar pra amanhecer, decidida a relaxar, e confiante que naquelas horas não encontraria ninguém acordado pela cidade, resolve banhar-se no lago de Leiria.
Ao Chegar no lago, Clarie amarra sua égua numa árvore próxima, e começa a despir-se.
Totalmente nua, solta-lhe os cabelos. Em seguida, com a graça de um boto, mergulha nas águas cristalinas.

***

Dick e Colin eram mercenários, e estavam planejando sua viagem logo ao amanhecer quando ouviram ruídos de cascos que ressoavam atraindo suas atenções. Achando que era o patrulheiro da cidade, e como Colin tinha problemas judiciais, resolveram se esconder.
“Por Jáh, que bela visão” – disse Dick. Olhando a delicada figura de cabelos escuros que cruzava o campo verde e se dirigia à lagoa, despindo-se à medida que chegava ali.
Eles estavam agachados, escondidos detrás de uns arbustos, espiando a esplêndida donzela a banhar-se na lagoa.

****
Clarie lançou seu comprido cabelo negro sobre um ombro. Podia sentir os olhos dos intrusos nela, tinha-os sentido por certo tempo.
Não que ela se importasse de ser apanhada banhando-se. Não sentia incomoda ou com vergonha. Como poderia alguém estar envergonhada ou orgulhosa de ter tudo o que as mulheres possuíam? Se um inoportuno moço conseguia observar com equívoca luxúria, não era mais que uma tolice de sua parte.
Clarie passou seus dedos pelos seus cabelos molhados e lançou outro olhar crítico para onde achava que se encontrava os intrusos.
Os olhos cravados nela possivelmente pertencessem a um par de jovens curiosos que nunca tinham visto uma donzela nua. – Assim pensou.
Clarie se meteu debaixo da água, para esfriar sua irritação. Agora emergia subitamente, sacudindo a cabeça e salpicando a água.

*****
Ao lado dele, Dick gemeu, de prazer ou dor, Colin não estava seguro.
Subitamente dando-se conta do significado do gemido, Colin o golpeou no ombro.
- Por que me golpeia?- Dick sussurrou.
- Quer que ela o ouça?

Ambos voltaram seus olhares à lagoa.  Foi quando perceberam que a formosa donzela, não estava mais lá.

-Cadê ela? – Colin perguntou

Atrás dele, a feminina voz disse claramente:

-Aqui.

Colin não se atreveu a vira-se. A espada dela pressionava firmemente contra uma veia que pulsava em sua garganta. Ao lado dele, Dick abriu a boca surpreso, cambaleou e caiu quando quis olhá-la. Se Colin não tivesse  furioso com ele mesmo por ter baixado a guarda, teria se rido com a cena.

- Rapazes, não estão um pouco grandes para andar espiando uma donzela  banhando-se?
- Seu tom era zombador. - Esperava encontrar jovens idiotas aqui, não homens adultos.

Dick, em vez de vir em sua ajuda, estava apoiado sobre seus cotovelos com uma expressão perplexa que comunicava ao mundo que a morena era ainda mais bela de perto. Ele se perguntou se ela ainda estava nua.

-Vocês não são daqui -  ela adivinhou.-O que estão fazendo nestas terras?

Colin se negou a responder. Não devia à mulher nenhuma explicação.  
Mas Dick, o traidor, estava encantado pela mulher e respondeu:

-Não tínhamos intenção de ofender ou incomodar, minha lady -  ele disse quando se recuperou de seu estado de choque.

-O asseguro. Ele sorriu, fazendo que seus olhos cor esmeralda dançassem de uma maneira que nunca falhava em seduzir as moças.

- Veja, somos simples mercadores, quer comprar algo? - Apontando pra suas mochilas.
Enquanto Dick a mantinha entretida, Colin ganhou vantagem de sua distração para deslizar sua mão lentamente pelo flanco de seu corpo e logo ao longo de sua panturrilha.  
Será que consigo tirar a adaga da bota? – Pensou Colin.

Dick levantou suas sobrancelhas em fingida inocência e seguiu falando.  – Para a dama, fazemos um bom desconto.

A espada subitamente se afundou na carne do pescoço de Colin, em violento contraste com a voz melodiosa da mulher, que disse:
-Espero que te esteja coçando a perna e não que esteja tratando de tirar algo da bota.

Ele apertou os punhos. Maldição! Ser ameaçado a ponta de espada por uma donzela! Por Jah! Era humilhante.

-O que quer?- ele grunhiu.
-O que quero? -  ela repetiu - Hmmmm. O que quero? -  Ela baixou a espada e golpeou a coxa de Colin irreverentemente com a espada. Mas antes que ele pudesse reagir, ela a moveu rapidamente de volta a sua garganta.

- Suas roupas.

Dick afogou sua risada.
Ela sorriu brandamente em resposta.
-As tuas também.
O sorriso de Dick se congelou em sua cara. 
-Quer que eu tire…?… toda a roupa?
-Sim.
A ira crescia em Colin.
 - Idiota!- disse ao Dick, que realmente parecia estar desfrutando da cena.
-Toma sua espada. Maldição, ela é só uma mulher, uma bebê. Vais ficar aí atirado como um…?
Dick riu.
– Ela já não é uma bebê, verdade, moça? Além disso, se a senhorita quiser minha roupa, Estarei encantado em obedecer.
Dick  ficou de pé, deixou cair seu cinturão, tirou-se suas botas, e começou a afrouxar os cordões de suas calças.
- Depois de tudo, é justo. Eu a espiei enquanto estava nua.
O entusiasmo de Dick enquanto se tirava as calças e a roupa interior só aumentou a irritação de Colin. Para sua surpresa, quando finalmente Dick se mostrava corajosamente ante ela, a mulher permaneceu indiferente a sua exibição de masculinidade.
Com a mão livre, ela recolheu o cinturão.
- Agora você - ela disse, cravando em Colin a ponta de sua espada.
Colin considerou que não o faria. Dick podia ter entrado naquele jogo, sorrindo como um idiota só coberto por sua túnica. Mas Colin estava certo a não conceder nada a uma mulher.
- Não -  ele disse.
 - Vamos - ela o apurou.  - É um pagamento justo por estar espiando.
- Não é um crime espiar aquilo que se exibe tão obscenamente - ele a repreendeu.
Ela já tinha ferido seu orgulho de cavalheiro. Ele não ia permitir ganhar a luta de vontades também.
A voz dela adquiriu um tom duro.  
– Tire a roupa, Já.
- Não -  ele disse também com um tom duro.
Apesar de que a espada nunca se moveu de seu pescoço, a mulher caminhou detrás dele, inclinando-se para lhe sussurrar no ouvido: - É perigosamente arrogante.
 Seu quente fôlego lhe produziu um calafrio que lhe percorreu o corpo, e a essência de sua pele recém-lavada era uma distração perigosa. Mas ele se negou a admiti-lo.
Com o silêncio dele, ela deu a volta para enfrentá-lo cara a cara, ela se agachou para estar diretamente em sua linha de visão. Colin não tinha outra opção, mas que olhá-la. O que viu fez que seu coração se acelerasse e que sua boca se secasse.
Graças a Jáh, ela já não estava nua, de outro modo a luxúria teria esmagado toda sua vontade. Ainda assim, sua fúria se derreteu instantaneamente, e era difícil para ele formar ideias, e muito menos emitir palavras.
Era bela, ele baixou seus olhos até o decote.
Ele respirou com dificuldade. Se ela tinha planejado desarmá-lo com sua beleza, era uma boa ideia. E funcionou até certo ponto. Mas enquanto ele continuava olhando sua formosa e feminina cara, ele se deu conta de uma verdade. Significativa. Apesar de toda sua bravura e palavras duras, ela era uma mulher. E o coração de uma mulher sempre era terno e compassivo.
A espada ameaçando sua garganta não era, mas que uma travessura. Ela nunca a usaria para machucá-lo. Não era mais perigosa que um gatinho.
-Não me cortará -  ele disse, desafiando seu olhar.
Ela franziu o cenho.  - Não seria o primeiro.
Colin não lhe acreditou por um instante.
Dick, preocupado pela séria mudança no intercâmbio de palavras, interrompeu com um sorriso.
-  ”Paz”, amigos. Não necessitamos que isto se converta em um assunto tão grave. Vamos,  tire a roupa como um bom moço, sim Colin?
Ela ficou de pé então - Sua roupa, Sr. Agora.
Colin estreitou seus olhos ante seu quadril, que estavam rodeadas por um pesado cinturão de cavalheiro que servia para sustentar a espada. O cinturão ia por cima de uma feminina saia vermelha.
-Não -  ele desafiou.
Um longo silêncio cresceu entre eles, carregando o ar como o vento antes de uma tormenta.
E então um raspou estalou. Foi tão inesperado e tão rápido que a princípio Colin não o sentiu.
- Santa Mãe de Jáh! - Dick murmurou assustado.
 Algo ardia no peito de Colin.
Era impossível, Impensável. Atônito, ele levou seus dedos ao lugar. Voltaram ensanguentados.
A moça o tinha talhado. A moça de cara doce, de voz suave,  tinham talhado sua carne.
Antes que ele pudesse recuperar-se para lançar um contra-ataque, ela levou a espada de volta a sua garganta, e ele foi forçado a agachar-se dobrado em dois como um animal ferido enquanto o sangue do corte superficial se escorria pela túnica rasgada.
Ele se tinha equivocado a respeito a dela. Estava completamente equivocado. Nenhum remorso suavizou seu olhar tranquilo.  Nada de piedade.  Nada de clemência. Poderia matá-lo sem pestanejar.
Nunca tinha visto tanta força de vontade em uma mulher. E só nos mais desumanos guerreiros tinha visto esse tipo de fria determinação. Ele impressionava e o enfurecia. Dobrado em dois, desamparado, olhando-a fixamente com ira silenciosa, não podia decidir o que sentia por ela, admiração ou ódio.
- Mãe de Jah -  Dick disse  - sabe o que fez?
Seu olhar nunca se desviou.  – Dei uma advertência.
- OH, minha lady -  Dick disse, sacudindo sua cabeça – Você provocou ao urso.
- É só um arranhão - lhe disse, estreitando seu olhar em Colin e adicionou - Para lhe recordar quem tem a espada aqui.
Colin sem deixar de olhá-la e permitindo um sorriso malicioso, adicionou:
 - Farei o que minha bela dama quer.

Por agora,. ele pensou. Mas em uns poucos dias, essa moça, teria o seu devido castigo por sua rabugice. 

0 comentários:

Postar um comentário